Um dos principais projetos para as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 é a revitalização da zona portuária, conjunto de obras conhecido como Porto Maravilha. O presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), Alberto Gomes Silva, participou nesta quinta-feira (17/09) da 14ª Conferência Internacional da Sociedade Latino-Americana de Estudos Imobiliários (Lares) e falou sobre o projeto do Porto Maravilha, que promete colocar a região no mesmo patamar de outros famosos pontos turísticos do Rio de Janeiro.
A região do centro da cidade passou por décadas de abandono, mas este projeto pretende recuperar a identidade e o valor histórico da zona portuária. “O Porto do Rio é um lugar desde sempre inserido na economia global, que era o principal porto, o comércio internacional do Brasil se fazia por ali. Ao mesmo tempo é um lugar muito doméstico, onde os trabalhadores do porto conviviam, faziam a sua roda de samba, foram inventando o samba, sincretismo religioso, modo de comer, modo de vida, e mesmo a colônia portuguesa que morava ali, com o seu modo de vida, e você ainda encontra isso lá. Então, o que o lugar tem não é uma identidade; ele tem identidades”, analisa o presidente da Cdurp.
O Porto Maravilha vai restaurar vários equipamentos culturais existentes no local como a Praça XV, o Museu Histórico Nacional, Paço Imperial, Palácio Tiradentes, Centro Cultural Banco do Brasil, a Casa França-Brasil, o Espaço Cultural da Marinha, Centro Cultural da Justiça Federal e o mais novo Museu de Arte do Rio, além de locais históricos como o Cais do Valongo e a Pedra do Sal. O projeto também prevê a construção do Museu do Amanhã, da Fábrica de Espetáculos do Theatro Municipal e do AquaRio, obras já iniciadas.
Silva destaca de manter e valorizar restaurantes tradicionais e outros pontos comerciais importantes da região,alguns com mais de 100 anos. “É uma tradição, você vai para qualquer lugar do mundo e vai comer em um lugar que tem 200 anos. No Brasil, só tem valor comer na lanchonete que inaugurou ontem. Então, essa memória que a gente reconhece nos outros, tem que reconhecer em nós também”, emendou.
A zona portuária abriga cerca de 30 mil moradores, entre os bairros, como Saúde, Gamboa e Santo Cristo, além do Morro da Providência, primeira favela do Brasil. Segundo Silva, não existe nenhuma intenção de tirar os moradores da região: estão sendo construídos 1700 prédios residenciais, incluindo moradias populares para famílias com renda até três salários mínimos.
“Concretamente, além de não ter nada que induza o cara a querer ir embora dali, estamos oferecendo tudo o que é possível em termos de oportunidade de emprego e qualificação profissional para que ele possa se desenvolver e daqui a pouco arrumar um emprego ali, melhor remunerado, e fica por ali um lugar de oportunidades para ele”, acrescentou.
Entretanto, os moradores da região duvidam da efetividade dos projetos sociais e não sabem se vai ser possível continuar morando ali. A especulação imobiliária já começou, mesmo com as obras ainda em andamento, e os cursos são poucos divulgados: é o que afirma o administrador da página Morro da Providência, no Facebook, que preferiu se manter anônimo, por receio de represálias (a página denuncia problemas na região portuária). Ele conta que muita gente já teve que se mudar do local.
“Será que os cursos vão beneficiar os moradores e levar a empregos? Isso é bom. Mas será que o salário que vão ganhar vai dar para pagar um aluguel de R$ 700 aqui na comunidade, ou acima de R$ 1 mil pela zona portuária? Os cursos são de porteiro, de atendente. Por que não oferecer curso de inglês, curso de administração?”, completa.